segunda-feira, 2 de julho de 2007

- Eu sei, eu sei - diz Eddie.
O que ele não sabe é que Marguerite, sem conseguir ligar para ele de volta, resolveu ir ao hipódromo para encontrá-lo. Sente-se mal por ter se zangado com ele, ainda mais no dia do seu aniversário, e quer lhe pedir desculpas; quer tamém pedir para ele parar. Ela sabe que Noel vai insistir para eles ficarem até fechar - Noel sempre age assim. E como o hipódromo está a apenas dez minutos de casa, Marguerite pega a bolsa e sai pela Ocean Parkway como seu Nash Rambler de segunda mão. Vira à direita em Lester Street. O sol já se pôs, o céu está mudando. A maioria dos carros vem na direção contrária. Ela se aproxima da passarela da Lester Street, por onde os freqüentadores costumam chegar ao hipódromo subindo as escadas passando sobre a rua e descendo as escadas do outro lado, até o dia em que os proprietários do hipódromo doaram um semáforo à cidade, o que tornou a passarela deserta a maior parte do tempo.
Nesta noite, porém, ela não está deserta. Abriga dois adolescentes que não querem ser encontrados, dois garotões de 17 anos que, horas antes, haviam sido exotados de uma loja de bebidas depois de roubar cinco maços de cigarros e três garrafnhas de uísque. Agora, depois de beber todo o uísque e fumar todos os cigarros, entendiados, eles balançam as garrafas vazias sobre a borda do gradil enferrujado.
- Você duvida? - diz um deles.
- Duvido - diz o outro.
O primeiro deixa cair a garrafa, e eles se escondem atrás da grade de ferro para observar. A garrafa passa pertinho de um carro e se espatifa na pista de rolamento.
- Uhuuu - grita o segundo - viu só?
- Agora quero ver você, seu cagão.
O segundo se levanta, segura a sua garrafa e escolhe o tráfego esparso da faixa da direita. Balança a garrafa de um lado para o outro, tentando calcular para ela cair entre dois carros, como se aquilo fosse uma espécia de arte, e ele, uma espécie de artista.
Seus dedos se abrem. Ele quase sorri.
Doze metros abaixo, Marguerite não pensa em olhar para cima, não imagina que alguma coisa pode estar acontecendo na passarela, não pensa em outra coisa a não ser tirar Eddie do hipódomo enquanto ele ainda tem algum dinheiro. Ela se pergunta em que setor das tribunas deve procurar no exato instante em que a garrafa de Old Harper's bate no seu pára-brisa fazendo voar estilhaços de vidro para todo lado. O carro dá uma guinada e vai de encontro à uma mureta de concreto. Expelida do carro como uma boneca, ela se choca contra a porta, o painel e o volante, rompendo o fígado, quebrando um braço e batendo a cabeça com tanta força que perde contato com os sons da noite. Não ouve as freadas dos carros. Não ouve as buzinas. Não ouve o som abafado dos tênis que descem correndo a passarela da Lester Street e se perdem na escuridão.

O amor, como a chuva, pode se nutrir do alto deixando os casais encharcados de alegria. Às vezes, porém, na dura batalha da vida, o amor seca na superfície e é obrigado a se nutrir do chão, sgudando com suas raízes para se manter vivo.
O acidente em Lester Street mandou Marguerite para os hospital. Ela teve de ficar seis meses de cama. Seu fígado rompido acabou se recuperando, mas as despesas e a demora lhes custou a adoção..